Passei nove dias sem postar e a visitação ao blog caiu consideravelmente. Seus miseráveis! Acham que é fácil manter um blog?
Mas vamos ao que importa.
A Bahia é um estado bizarro e cheio de bizarrices. A TV local não tem jornalismo, a não ser programas sensacionalistas que exploram narcisisticamente o sofrimento e a dor humanas.
Hoje, o Se Liga, Bocão conseguiu se superar. Mostrou uma senhora de idade com úlcera nas pernas e o apresentador, o Bocão, ficou perguntando se doía e se ela acreditava na ajuda de Bocão. Só para ouvir: “Abaixo de Deus, só o Bocão!”. Aí ele perguntou se quem cuida de úlcera é ortopedista ou cirurgião plástico.
Também teve uma mãe que foi em busca de internação do filho dependente químico. Bocão demonstrou-se ainda mais ignorante. Perguntou se o rapaz ficava dando chilique, se roubava, se batia nela. E a mãe: “Não, ele é tranquilo.” Desarmou, assim, em sua simplicidade, a charlatanice televisiva. Mas Bocão insistiu: “Você cheira a mão dele? Você cheira? – e – Já pegou ele drogadão, lá, assim, aéééreoooo?” Ela disse categoricamente que não. O único problema é que ele estava devendo ao traficante e foi jurado de morte.
Depois, ou antes, o programa mostrou três assaltantes num posto policial. O repórter era o Mão Branca, figura caricata que só mostra as mãos cobertas por uma luva branca. Aí ele perguntou a um assaltante chamado Getúlio se ele sabia quem foi Getúlio Vargas. O assaltante sinalizou timidamente que não conhecia o infeliz. Mão Branca disparou sem hesitar: “Conhecer História do Brasil você não sabe, mas assaltar sabe, né?”.
Conhecer História do Brasil… Pois é. Parece que ele não conhece porque simplesmente não quis. O Timothy Mulholland não tem culpa alguma, afinal de contas, a decoração da casa do Reitor não pode ser feita a facão e os mais de 470 mil reais estão justificados. A TV também não tem culpa, que fica passando Se Liga, Bocão.
Claro que a mídia não manipula pura e simplesmente. As pessoas vão atrás desses programas sensacionalistas sabendo da exposição pública que sofrerão. Mas em um país onde o poder público e os serviços estratégicos, como a comunicação e a educação, são relegados a último plano, recorrer a líderes messiânicos pode ser a última cartada de indivíduos e grupos acometidos pelo desespero.
E que venha o povo!